quarta-feira, 14 de novembro de 2007

ÓRFÃOS...

Manhã de sábado ensolarada e com vento norte característico de Santa Maria um fato me deixou muito triste e de certa forma revoltada. Este fato me fez escrever e dividir esta angustia com você. Acredito que esta cena não é isolada num país como o Brasil. Quantos meninos já bateram na porta da tua casa pedindo comida? Pedindo algo? Dois meninos franzinos, certamente um de cinco anos e outro de dez anos apertaram o interfone e pediram “Tia, tem algo para dar? Estamos com fome.” Sou contra esmolas, mas como negar algo para duas crianças com fome? Assim que dei os pacotes de bolachas eles abriram e saíram rápido “devorando” tudo. Cena triste. Minha filha perguntou: Eles são pobres? Eu disse para ela: Eles são órfãos. Como explicar este fato para uma menina de três anos? Brasileira como estes meninos. Criança como estes meninos. Como explicar o que é ser órfão? Ser pobre é fácil identificar, ela já entende. Milhões de pessoas são pobres neste país. A pobreza no Brasil é cruel. Ser pobre neste país é uma desgraça. Ser pobre pressupõe enfrentar muitas filas e hostilidades. Filas para ser atendido num posto de saúde lotado. Fila para matricular o filho da escola pública mais próxima. Filas para pegar ônibus. Viver com poucas opções de roupas, poucas opções de calçados, de comidas. Contar cada moedinha para conseguir comprar uma carne “de segunda” para fazer no final de semana. É triste, é cruel. Minha filha já sabe, já entende a pobreza. Vive num país de muitos pobres. Mas estes meninos que bateram na nossa porta são órfãos. Ser órfão, segundo o Dicionário Aurélio tem muitas definições pode ser “aquele que perdeu os pais ou um deles, que perdeu um protetor, abandonado, desamparado, privado, desprovido, falto...” Não sei se estes meninos perderam os pais. Mas tenho certeza que são desamparados, privados de uma família estruturada, são privados de seus direitos básicos como crianças, como cidadãos. São desprovidos de um Estado que realmente os proteja. São órfãos. O artigo 71 do Estatuto da Criança e do Adolescente diz “A criança e o adolescente têm direito à informação, cultura, lazer, esportes, diversões, espetáculos e produtos e serviços que respeitem sua condição peculiar de pessoa em desenvolvimento.” Parece até utópico se formos pensar nos meninos que bateram na porta pedindo comida. Como garantir estes direitos para as crianças que não tem o direito nem de ter comida em casa? Crianças que precisam diariamente sair as “ruas” para garantir seu “pão”. Eles representam os milhões de meninos e meninas do Brasil que estão nos sinais de trânsito vendendo balas, fazendo malabares, os temidos “pivetes” que tanto amedrontam brasileiros. Se eles conseguirem vencer neste país serão verdadeiros “Heróis”. Não posso mais confiar no Estado Brasileiro, nas leis, enfim. Confio nos meninos e meninas do Brasil. A esperança, a utopia não pode morrer.

Andressa da Costa Farias
* texto publicado nos jornais Diário de Santa Maria e A Razão no mês de agosto de 2006.

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