quarta-feira, 14 de novembro de 2007

CRIANÇA POBRE OU POBRE CRIANÇA ?

O direito de simplesmente ser criança é negado neste país quando se é uma criança pobre. Seja índio, seja branco, seja negro quando se é pobre a criança é coagida a pedir esmolas, a trabalhar e talvez até a roubar. O medo das crianças pobres impera nesta sociedade hipócrita. Talvez este receio fez com que as pessoas não se importassem com o indiozinho que esmolava no calçadão e se sensibilizassem com o cachorro poodle perdido no centro de Santa Maria, cena descrita pela professora Adriana do Amaral e retomada pelo jornalista Marcelo Canelas. As crianças pobres pedintes, trabalhadoras estão em toda parte. Fui à escola da minha filha e ao sair de lá duas menininhas estavam pedindo esmolas no portão. Aparentavam não mais que quatro anos e já tinham na ponta da língua uma frase que repetiam insistentemente: “Dá uma moedinha ai tia!”. No caminho para casa foi só olhar para a rua para ver dois meninos de no máximo oito anos puxando carrinho de coleta de lixo para reciclagem. Trabalho duro, sol forte e já na dura luta pela sobrevivência. Quando estava no Rio de Janeiro eu lembro que a toda a hora ao sair do hotel as pessoas diziam: cuida a tua bolsa, tem muito “pivete”. O que fazer? Enquanto cientista social eu afirmo com certeza que a solução parece obvia, todavia jamais foi ou é levada a sério no Brasil: educação de qualidade, ampliação dos horários das crianças na escola, salários dignos para os educadores, merenda farta. Caso isso aconteça um dia de fato o país certamente gastaria menos com segurança pública e cresceria economicamente enquanto nação. Cada vez mais a sociedade precisa de mão-de-obra qualificada e competente. Como isso pode acontecer num país cuja média de tempo na escola muitas vezes não passa de quatro horas diárias? A escola deveria acolher as crianças, sobretudo as mais carentes em tempo integral, com cursos diversos no horário oposto ao turno de aula formal, com merenda farta, etc. Deste modo as crianças não estariam nas ruas pedindo esmolas, nem no sol forte trabalhando como se fossem adultos, não estariam cometendo pequenos delitos. O Brasil que não reconhece o potencial de suas crianças, que não investe na educação de qualidade será sempre vítima de suas pobres crianças, ou seja, de suas crianças pobres. Nas leis formais todos têm direitos iguais, porém nem todos têm oportunidades. O discurso é social, mas a cultura é individualista. Até quando a hipocrisia?

Andressa da Costa Farias
Publicado no jornal Diàrio de Santa Maria, 17/03/2007.

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