segunda-feira, 29 de junho de 2015

O fascinante e complexo ato de ler

A imagem do livro já "gasto" de tanto ser manuseado causou surpresa e alegria nela. Minha filha veio sorrindo e também quis "folhear" aquele livro. Estranho objeto que lhe causava naquele instante fascinação. Perguntou-me se era bom, já que parecia que tantos haviam lido. Respondi que sim. Pertencia a biblioteca universitária da UFSC e chegava a minha vez de lê-lo pela primeira vez. Para mim livro "velho", "usado", "gasto" de tantas mãos e olhos percorridos são os melhores. Talvez igual vinho. Quanto mais velho, melhor. "Degustar" um bom livro é fazer dele um objeto plenamente usado. Lido. Debatido. Este livro era especial. Não era qualquer livro. Seu estado de uso denunciava se tratar de um livro de uma área específica do conhecimento. A qual muitos tinham interesse. Eu, por-exemplo. Mas, a reação da Gisella foi a causa de minha contemplação e êxtase. Parei para pensar na importância da leitura e o quanto a família tem um papel primordial neste sentido. Ela jamais se encantaria pelo livro se não houvesse sido incentivada desde a tenra infância a gostar de ler. Lembro das primeiras histórias contadas. Da época da coleção do Gibi da Turma da Mônica, dos clássicos infantis de conto de fadas. Das reações de comoção e alegria com os feitos da "Bruxa Má", do "Príncipe" ou "Branca de Neve". E das inúmeras fábulas lidas. E de quanto hoje é autônoma para selecionar sua própria leitura paradidática e chega ser "crítica" da literatura juvenil indicando ou reprovando certos títulos e autores a outros amigos. O ato de pensar a respeito se justifica por saber que infelizmente vivo num país onde a leitura verbal escrita não é valorizada. Um país onde milhões de jovens e crianças não tem nem sequer a oportunidade de "folhear" um livro ou gibi qualquer dada a precaridade das bibliotecas públicas de muitas escolas. Onde outros tantos já foram classificados como "analfabetos funcionais". Vivo num país que há a necessidade mais urgente de várias famílias de adquirirem comida, roupas, transporte. E por isso, não reconhecem e nem legitimam um livro como um objeto de investimento pessoal e social que se traduz numa educação melhor. Requerer educação de qualidade é um desejo quase que utópico. E talvez seja isso uma condição pensada. Planejada. Orquestada. Para que demandos de todo tipo continuem acontecendo. E assim páginas de hipocrisia vão recheando a história deste país. Quero contrariar esta lógica e continuar incentivando a leitura e apresentando "encantamentos" vários a possíveis leitores ou novos leitores. O exemplo é o maior e melhor incentivo. O livro que motivou este texto intitula-se "Portos de Passagem" do autor João Wanderley Geraldi e pretende ser um ponto de passagem para o conhecimento da prática pedagógica, linguística e textual. Desejo assim que esta crônica seja um ponto de passagem para conscientizar cada um que dedicou alguns minutos para esta atividade tão nobre, fascinante e complexa: o ato de ler. Andressa da Costa Farias.

4 comentários:

Luciane Mari Deschamps disse...

Dessa, realmente vivemos num país que desvaloriza o escritor e o seu trabalho. É muito mais fácil lidar com ignorantes, pois estes não conseguem formar opinião e seguem aqueles que consideram "inteligentes". Parabéns por sua crônica! Fiquei curiosa para saber sobre o livro indicado. Quem sabe eu passe por este porto também!!! Grande abraço!!!

Andressa CF disse...

Lu, agradeço teu comentário. Fico feliz com tuas considerações. O livro é ótimo. Procure por ele e vais gostar muito da leitura. Abração !

Stèphanie disse...

Adorei teu texto! E, novamente, preciso dizer que é uma delícia ler teus textos. Sobre o hábito da leitura e seus reflexos na sociedade... A leitura é um ato transformador e determinante para consolidar um povo crítico e criativo para driblar os problemas enfrentados.
Um abraço e continue nos encantando com suas palavras.

Andressa CF disse...

Oh querida Stéphanie, emocionei-me com teu comentário. Sou tua fã !
Beijão !!!

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