sábado, 24 de outubro de 2009

Onde resgatar o brilho do olhar ?

Geralmente quando ainda somos crianças nosso olhar é cheio de brilho e alegria. Descoberta das coisas do mundo, das brincadeiras, das letras, dos doces, dos amiguinhos, das festinhas e das professoras queridas. Ai a gente vai crescendo e entendendo algumas coisas. Tomando consciências de outras. Se tornando "adulto". Na adolescência o meu olhar perdeu um pouco o brilho e o entusiasmo pela vida, pelas coisas.
De maneira trágica descobri que o mundo dos humanos além de possibilidades boas também produz tristezas, injustiças e violências. Aos 15 anos perdi minha melhor amiga assassinada. Por um motivo fútil aos meus olhos- roubaram a bicicleta dela e também tiraram a sua vida. Doeu muito descobrir um mundo desumano. Cruel. Comecei ali a virar adulta. A sentir revolta. A chorar a dor da perda da juventude de alguém.
Ultimamente o brilho do meu olhar se ofuscou um pouco mais. Educadora de Jovens e Adultos aqui em Florianópolis (SC) perdi um aluno (33 anos) assassinado cruelmente. O caso do "rapaz do assoalho". Por motivos ainda não esclarecidos foi golpeado até a morte e deixado embaixo do assoalho de uma casa de madeira no Estreito (parte continental da Ilha de SC).
O caso parou nos jornais, na televisão. A sensação de impotência, tristeza e revolta novamente se manifestou em mim. Uma angústia na garganta. Era de família humilde do RS. Os seus parentes tiveram dificuldade de vir à SC e nem conseguiram levar o "corpo" de volta. Sepultaram aqui mesmo dadas as condições materiais a que se encontravam. Justiça será feita ?
Não sei o que será deste mundo desumano. Parece que os homens vão crescendo e destruindo o brilho do olhar alheio. Vão manifestando brutalmente a violência e a insanidade. Deixando corações feridos, almas tristes. Ofuscando os olhares. Semeando desconfiança e medo.
Onde resgatar o brilho do olhar ? A esperança está adormecida em mim. Não quero supor como alguns que a violência é normal em tempos onde os objetos, as coisas, os bens são mais valiosos que os seres-humanos.
Porém, queria os adultos ao crescerem não pudessem perder o brilho do olhar. A inocência das crianças. Certamente o mundo seria um lugar com mais alegria, mais brincadeiras, risadas, beijos, abraços, encontros. Eu sei que é utópico este desejo mas eu clamo por um mundo sem violências, tragédias e tristezas. Sonho. O resgate do brilho do meu olhar. Dos olhares diversos.

Andressa da Costa Farias

4 comentários:

Unknown disse...

É realmente triste a realidade de que com o passar dos anos o brilho do olhar e a alegria de criança vão se perdendo. O cotidiano nos impõe constantes decepções, tristezas e ao passo que vamos amadurecendo o coração vai endurecendo.
A mídia, tão apelatiava por audiência, busca em notícias trágicas a constante de seus noticiários.
As leis mal aplicadas geram uma sensação de impunidade que agrava a violência diária.
Pessoas a mercê de uma sociedade indiferente aos menos favorecidos e com exemplos domésticos de violência encontram na maldade, no crime, na violência a oportunidade de se auto-afirmar, tornando uma bola de neve essa questão.
O que fazer?
Como acreditar em dias melhores?
A utopia de dias iluminados, de corações sensíveis, de olhares cheios de esperança não pode se perder.
Não deixemos de fazer uma brincadeira, um elogio, de demonstrar carinho pelos amigos, de acreditar nas pessoas, de sonhar.
Parabéns pelo texto.

Unknown disse...

Andressa, a vida no meu entendimento tem dois enfoques básicos, os sonhos que nos projetam ao futuro, e os filhos que nos projetam ao passado. Certa vez uma avó foi a uma loja e comprou um grade urso de pelúcia para a sua neta, achando que seria um excelente presente e que a sua netinha iria adorar brincar com aquele urso. Acontece que a netinha ao abrir o presente com o urso notou que existia uma grande caixa e passou a brincar de casinha com a caixa. É uma questão de enfoque, no meu entendimento a violência absurda mundial deve-se ao fato da total inoperância do Estado e Governos. Na verdade precisamos investir 100% da receita líquida dos tributos em educação, pois neste tópico temos a certeza que estamos investindo no material humano, e diretamente estaríamos melhorando as gerações futuras quanto a saúde, meio ambiente, etc.

Salete Cordeiro disse...

Andressa, eu lembro a caso dessa menina, morávamos perto de onde aconteceu o crime. Era um lugar bom para andar de bicicleta e a tarde todos iam para a praça tomar chima e brincar. Lamentável. Todos os dias vemos cenas que nos entristecem e ofuscam nosso olhar, nem sempre marcadas pela morte, mas pela situação de miséria de tanta gente nesse país de tanta riqueza. Que consegue enxergar as desigualdades e se compadecer com a dor do outro acaba sofrendo muito, nosso olhar entristece mesmo. Isso vai acontecendo sem que a gente perceba, as vezes. Mas tem muita boa acontecendo. Tem muita gente legal no mundo fazendo coisas e lutando por espaços de partilha, de solidariedade, de humanidade. Essas pessoas ou projetos nem sempre estão a nossos olhos, não recebem divulgação da mídia. Não podemos deixar nosso olhar se ofuscar não Andresssa, temos que ser utópicos, sonhadores. Somos seres da esperança e não da desesperança, como dizia o Paulo (Paulo Freire). Nas nossas salas de aula não ensinamos só conteúdos, mas educamos para a vida, para esperança, para a luta por um futuro melhor. Beijão Salete Cordeiro

Anônimo disse...

passando para dar uma lida! bjs!

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