sábado, 23 de fevereiro de 2008

Desafios da Educação: o contexto professor-formação-aluno.

Esta primeira semana trabalhando diretamente com os alunos na Escola Luiz Cândido permitiu ter uma noção da realidade das crianças, adolescentes. Já tinha ouvido falar na Escola do Porto, em Portugal, inclusive participei de um congresso de Pedagogia em Niterói-RJ em 2006 em que o idealizador palestrou. Fiquei fascinada pela possibilidade de reunião dos alunos por grupos de interesse e não por séries e pela escolha de unir alunos de diferentes idades e fases. Etc. Jamais iria imaginar que logo após a formatura em Licenciatura em Letras pela UFSM cairia justamente numa Escola com os propósitos parecidos aqui em Florianópolis-SC.
Constatei que na Luiz Cândido a inclusão dos alunos especiais cria um espírito de solidariedade entre os educandos, visto que muitos ajudam tais colegas a se locomoverem, a se expressarem e assim, acredito que serão alunos menos propensos a desenvolverem preconceito e a estigmatizar pessoas "diferentes". Todavia, constatei que, infelizmente há um abismo entre a formação acadêmica e a realidade escolar. Deste modo, todos os cursos de licenciatura do país deveriam incluir em seus currículos alguns semestres de "LIBRAS" (Linguagem Brasileira de Sinais) e noções de Braile, etc. Sei que tal papel é de competência do educador especial, mas os educadores seriados devem ter conhecimento do mínimo para conseguirem incluir de fato o aprendizado da maioria.
Tenho ensinado, mas principalmente aprendido. Estes dias um aluno machucou outro que era surdo, peguei o "agressor" pela mão e fiz o mesmo pedir desculpas ao menino agredido (surdo), outra aluna surda percebeu a cena e ensinou ao colega como pedir desculpas em Libras. Deu certo. Eles se entenderam e voltaram à atividade normalmente.
Tenho procurado praticar a pedagogia do amor. Noto que a maioria das crianças é bem carente materialmente. Estes dias quando eu estava contextualizando a aula de Português com a temática da Desigualdade Social, um aluno falou "Professora, nois semo tudo podre". A maioria tem consciência de suas condições e sensibilidade com as realidades que cercam. Há revolta sim e seria hipócrita se não dissesse que há muitas situações de conflito e violência dentro da sala de aula. Procuro contornar com distribuição de amor entre alunos. Há muita carência afetiva. Já consegui contornar brigas apenas conversando com as partes e acreditem: distribuindo abraço e beijo em cada aluno mais nervoso e revoltado. Têm dado certo. Em alguns já estabeleci um elo de confiança e cumplicidade para com as propostas pedagógicas.
Há sim, grandes desafios, o papel do professor é primordial nestes contextos, por isso acredito que a formação continuada é um processo importantíssimo para o educador assim como seu equilíbrio psicológico. O professor é peça fundamental nesse processo, o aluno um reflexo do trabalho dele. É através da Educação que se formam ou projetam novas perspectivas, sonhos e por que não acreditar na utopia de pessoas, de sujeitos melhores, mais preparados e, sobretudo mais solidários. Por isso, as políticas públicas devem tratar a Educação como investimento. É mais que importante, é fundamental.

Andressa da Costa Farias
Professora de Português da Luiz Cândido
Cientista Social

** Texto publicado parcialmente com o título "Desafios da Educação" no dia 06/03/2008 no jornal A Razão em Santa Maria-RS.

2 comentários:

Letícia Costa disse...

Que bom que o nosso país pode contar com professores dedicados e dispostos a aprender.
Pois vejo que cada vez mais as escolas (principalmente as particulares) enxergam o aluno como um objeto que ao passar num vestibular concorrido trará lucro e "alegrias". Essas "instituições de ensino" esquecem de dar atenção aos alunos que dentre tantos outros (salas com 100 alunos, por exemplo) perdem o interesse de se dedicar para alcançar seus objetivos. Os motivos desse desinteresse são muito menos pessoais e mais externos, na forma como este aluno é desvalorizado dentro da escola.
Quando tu comenta de investimentos, creio que é justamente nesse ponto que o governo peca. Abrindo cotas nas universidades para criar uma falsa oportunidade a todas as classes e raças. Se estes mesmos milhões que abrem vagas nas universidades fossem investidos nas escolas, as raízes da educação estariam fortalecidas e não seria preciso abrir vagas, pois todos teriam condições intelectuais de passar numa universidade pública. Mas claro, como sempre, é mais cômodo resolver o que será visto de imediato, o que trará votos...
Quando se trata de educação tem-se que pensar a longo prazo, nas pessoas que daqui 10 anos poderão mostrar que tudo valeu a pena!
É isso prima, não sei se concordas mas é a minha opinião...
Belo texto como sempre, beijão!

Gabriela Fischer Fonseca disse...

Salve, Salve, Dra Andressa!!!

Parabéns pelo texto
pelas coragem
pela vocação de educardora tão sabiamente exercida!!!

Ah, se todos os professores do Brasil fossem com tu...

Beijão

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