Geralmente quando ainda somos crianças nosso olhar é cheio de brilho e alegria. Descoberta das coisas do mundo, das brincadeiras, das letras, dos doces, dos amiguinhos, das festinhas e das professoras queridas. Ai a gente vai crescendo e entendendo algumas coisas. Tomando consciências de outras. Se tornando "adulto". Na adolescência o meu olhar perdeu um pouco o brilho e o entusiasmo pela vida, pelas coisas.
De maneira trágica descobri que o mundo dos humanos além de possibilidades boas também produz tristezas, injustiças e violências. Aos 15 anos perdi minha melhor amiga assassinada. Por um motivo fútil aos meus olhos- roubaram a bicicleta dela e também tiraram a sua vida. Doeu muito descobrir um mundo desumano. Cruel. Comecei ali a virar adulta. A sentir revolta. A chorar a dor da perda da juventude de alguém.
Ultimamente o brilho do meu olhar se ofuscou um pouco mais. Educadora de Jovens e Adultos aqui em Florianópolis (SC) perdi um aluno (33 anos) assassinado cruelmente. O caso do "rapaz do assoalho". Por motivos ainda não esclarecidos foi golpeado até a morte e deixado embaixo do assoalho de uma casa de madeira no Estreito (parte continental da Ilha de SC).
O caso parou nos jornais, na televisão. A sensação de impotência, tristeza e revolta novamente se manifestou em mim. Uma angústia na garganta. Era de família humilde do RS. Os seus parentes tiveram dificuldade de vir à SC e nem conseguiram levar o "corpo" de volta. Sepultaram aqui mesmo dadas as condições materiais a que se encontravam. Justiça será feita ?
Não sei o que será deste mundo desumano. Parece que os homens vão crescendo e destruindo o brilho do olhar alheio. Vão manifestando brutalmente a violência e a insanidade. Deixando corações feridos, almas tristes. Ofuscando os olhares. Semeando desconfiança e medo.
Onde resgatar o brilho do olhar ? A esperança está adormecida em mim. Não quero supor como alguns que a violência é normal em tempos onde os objetos, as coisas, os bens são mais valiosos que os seres-humanos.
Porém, queria os adultos ao crescerem não pudessem perder o brilho do olhar. A inocência das crianças. Certamente o mundo seria um lugar com mais alegria, mais brincadeiras, risadas, beijos, abraços, encontros. Eu sei que é utópico este desejo mas eu clamo por um mundo sem violências, tragédias e tristezas. Sonho. O resgate do brilho do meu olhar. Dos olhares diversos.
Andressa da Costa Farias
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