sábado, 7 de junho de 2008

Pessoas especiais não deixam de existir

Pessoas especiais jamais deixam de existir. Uma vez eu li esta frase e agora penso que ela é perfeita. Há poucos dias perdi do meu convívio uma das pessoas mais importantes da minha vida: minha avó Nercy. Ela foi praticamente uma segunda mãe ou eu diria até uma primeira mesmo.
Através desta vó eu aprendi as primeiras letras, que a gente pode ser cúmplice e não brigar se há amor verdadeiro. Por ela eu percebi todo o amor incondicional que uma pessoa pode ter por outras da mesma família e o valor da solidariedade e hospitalidade.
Minha avó uma vez viúva abdicou do direito de construir uma nova vida, talvez até uma nova família já que viuvou bem cedo para ficar com os filhos e cuidar dos netos. Decisão rara e corajosa da qual eu sempre questionei. Ela dizia somente “Minha filha, marido é um só e pronto.” Não sei se a resposta era por uma posição moralista forte ou se de fato amou tanto o meu avó que não teve nenhuma vontade de começar outra vida com alguém. Focou todo o seu amor na família.
Cuidou de mim, dos meus irmãos com muito carinho e sempre ajudou meus pais. A gente percebia a felicidade dela de estar junto, de "mimar". Adorava receber os outros filhos e neste sentido nossa casa foi privilegiada porque nossa relação com os tios paternos e primos foi bem fortalecida.
Eu jamais irei esquecer da forma despreocupada com que tratava as coisas materiais, a importância que dava para a presença dos que amava, a alegria de receber as pessoas como visitas.
Mesmo já estando com 80 anos no meu imaginário minha vó duraria para sempre. No domingo do dias das mães, em um telefonema, ela ainda alegremente disse que me esperaria com seu feijão de caldo grosso para quando eu fosse para Santa Maria (que seria em breve). Não deu tempo de nada. De repente, minha avó infartou.
Aquele 17 de maio de 2008 foi um dos dias mais tristes da minha vida. Quando cheguei na cidade que estava em festa por causa do aniversário municipal eu só via cinzas. Foi horrível encontrar minha queridinha já falecida. A vida é um mistério. A morte não avisa e não deixa recado. Não dá tempo de você se despedir, de dizer uma última coisa. Tudo muito rápido e sem volta.
O meu consolo é crer que de fato pessoas especiais só mudam de forma quando partem deste mundo. A minha avó continuará presente no meu pensamento, nos meus sentimentos que são reais, nas atitudes ensinadas por elas. Foi especial e jamais deixará de existir em minha vida. Precisava compartilhar este sentimento.

Andressa

Artigo publicado no "Espaço do Leitor" do Jornal A Razão de Santa Maria-RS, em 11/06/2008.

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