domingo, 26 de dezembro de 2010

O maior presente !

Em vésperas de Natal, dia 23 estava eu numa parada de ônibus depois do último dia de trabalho de 2010 quando sentei no banco da parada já lotada. No meu lado estava sentada uma senhora e ao lado dela uma menininha que devia ter uns seis anos de idade. De repente, ouvi choros da menina. A avó paterna lhe deu vários "puxões no braço" e no cabelo. Fiquei com o coração apertado. Via aquela criança apertando o braçinho para disfarçar a dor e vertendo lágrimas sem parar. A angústia tomava conta de mim. Queria fazer alguma coisa. Estava paralizada e com um nó na garganta. Foi quando finalmente uma senhora muito gorda e suada pediu o meu lugar no assento daquela parada. Aí pude ficar de pé e postei-me ao lado da menina. Me abaixei e sequei suas lágrimas. A avó se assustou. Perguntou se eu conhecia a "Maria Eduarda". Respondi que não. Continuei a falar com a menina na tentativa de fazer ela parar de chorar. Meus ouvidos doíam de compaixão ao ouvir o som dos ressentimentos infantis daquela "pequenina". Elogiei o cabelo. Ela tinha duas lindas tranças. Falei para ela não pedir mais balas para não deixar a avó nervosa, pois bala faz mal para os dentes. Enfim, aos poucos o choro cessou. A avó da menina me contou o motivo da "briga"- a falta de balas e que ficava com a neta porque a mesma estava de férias e os pais da menina trabalhavam. Falava da garotinha como um "fardo" na sua vida nestes dias de recesso. O coletivo delas se aproximou. A menina não chorava mais. Pude ver me atirar dois "beijinhos" com a mão logo que se acomodou no ônibus. Foi embora com aquela avó.
As festas de finais de ano como o Natal servem para o despertar dos melhores sentimentos. Não são raros os momentos de solidariedade ao próximo. Arrecadação de presentes, oferecimento de alimentos, roupas, brinquedos aos desprovidos materialmente. Mas, o que fazer aqueles desprovidos de amor e de afeto ? O que fazer com os que causam lágrimas aos outros ?
Como dar amor de verdade aqueles que tem ódio no coração ? Que são impacientes ? Que não sabem o sentido do perdão e da paz ?
Este episódio lembrou a narração que Fernando Sabino fez em "A última crônica" mas no sentido inverso. Ele edificou sua crônica a partir da observação minuciosa do aniversário de três aninhos de uma menininha pobre acompanhada apenas de seus pais num botequim no RJ. Ressaltou ali o melhor presente do mundo: o amor familiar.
Eu lembro que recebi muito carinho e amor da minha avó paterna. Agora percebo que este foi o melhor e maior presente que recebi dela na minha vida. Afinal, só consegue distribuir amor quem recebe. Estou feliz por ter conseguido dar àquela criança desconhecida um pouco do meu carinho e compaixão que fizeram cessar suas lágrimas. Acredito que aqueles desprovidos de amor precisam urgentemente recebê-lo para que possam passar adiante bons sentimentos. Os melhores sentimentos são os maiores presentes.

Leia também:
A última crônica, Fernando Sabino:
http://www.releituras.com/i_samuel_fsabino.asp

  Cadê meu pai?                  O dia dos pais se aproxima e foi inevitável me dar conta da ausência do meu pai aqui. Será o primeiro Dia d...