segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Praia e o vendedor de algodão-doce...

Janeiro, na Ilha da Magia certamente combina com praia. Não poderia deixar de ir em alguma das tantas que a cidade de Florianópolis oferece. Convite feito por uma amiga. Irrecusável. Ingleses foi o cenário da primeira visita à praia em 2009. Praia, será um prazer de poucos ?
Me questionei isso quando comecei a pensar nas pessoas que estavam a circular pelo local. Muitos turistas do sul e sudeste, sobretudo, Rio Grande do Sul e São Paulo. Também muitos latinos. Argentinos tem sempre. O turismo de SC agradece. Mas o meu questionamento persistiu.
Não creio realmente que todos que moram na Ilha possam ir a praia todo dia. Há deslocamento e custos em ficar se esbaldando na areia. Praia é um lazer restrito?
Uma das coisas que mais gosto é caminhar na beira do mar. Percebi a quantidade de ambulantes na praia. Um em especial. Menino vendendo algodão-doce. Não era um menino qualquer. Um menino para mim especial por que reconheci que aquele "descendente de índio" que estava vendendo ali na praia uma criança de no máximo 11 anos.
Em 2008 tinha sido meu aluno na escola pública municipal da qual eu trabalhei. Não poderia ignorá-lo. Eu parei para dar um beijo nele. Senti o constrangimento ao me ver. Se justificando da necessidade de aproveitar o verão para "trabalhar". Penso que sua "vergonha" estava fundamentada nas inúmeras vezes que argumentei em aula que criança não pode trabalhar, que há leis para proteger seus direitos e tudo mais como o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente).
Porém, como na maioria das vezes a realidade contradiz o ideal, naqueles instantes fugazes de sol e calor eu tinha que fazer algo. Pensei que a praia não poderia ser um prazer de poucos. Então resolvi fazer uma proposta para o meu ex-aluno. Disse que fosse dar um mergulho no mar, eu cuidadaria dos instrumento de trabalho dele e do dinheiro arrecadado. Não tenho como descrever aqui a felicidade do "João" com esta proposta. Prontamente tirou a roupa e foi ao encontro do mar azul. Nadou longe. Rodopiou. Fez bonito! Veio todo contente e repetindo inúmeras vezes "Obrigada professora". Que nada! Foi apenas um gesto para contrariar a lógica da praia como prazer de poucos. João também merece estes instantes. Todos deveriam ter ser direitos de fato sendo cumpridos. Como não é bem assim que funciona quero continuar tentando contrariar a lógica da praia como prazer de poucos. Aliás, todas as crianças mereceriam dias de praia em sua vida. Independente da situação social. Não é mesmo?

Andressa da Costa Farias.

Artigo publicado na íntegra na seção artigos no jornal A Razão, de Santa Maria-RS. Dia 22/01/2009. http://www.arazao.com.br/edicao-impressa/

Artigo publicado na íntegra na seção artigos no jornal Diário de Santa Maria, de Santa Maria-RS. Dia 02/02/2009.
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