sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Pela criatividade no Natal e originalidade no Ano-Novo !!!

A impressão que tenho que dezembro já inicia com anúncio do Natal, a data é “lembrada” especialmente pelas propagandas dos produtos e “facilidades de compra” para o “dia especial” desde o final de novembro. Ao sair na rua reparei numa enorme faixa na frente de um supermercado com os dizeres “Feliz Natal e Próspero Ano-Novo”. Incomoda-me o “jargão”, para mim já sem efeito.
Expressões deste tipo cansam, parece somente cumprir “protocolo”, esquemas e convenções sociais. Todo ano se repetindo, da mesma forma, do mesmo jeito. Não nego que o desejo sincero de felicidade no Natal e prosperidade no ano que se anuncia é ótimo, mas a mesma expressão sempre “enjoa”, você não concorda ?
É o que ocorre também com expressões do tipo.: “Oi, tudo bom?”, “ Parabéns, tudo de bom!” (para aniversários), me incomodo com estas construções lingüísticas por que acredito sinceramente que o brasileiro é criativo e inteligente, talvez falte estímulo e maior autonomia.
Em outubro fiz aniversário e adorei ler mensagens de amigos me parabenizando de forma original e carinhosa. Quem não gosta de receber um “Parabéns” personalizado? (claro sempre tem os que continuam a seguir convenções e que só lembram de você por questões de conveniência reproduzindo os “jargões” de sempre). Quem não se encanta quando é cumprimentado na rua de forma original e parado para conversar sobre o que de fato está fazendo na vida (mesmo que o tempo seja curto).
Deste modo a expressão “Feliz Natal e Próspero Ano-Novo” poderia ser substituída.Leio em diversas embalagens, em vários anúncios, em muitos cartões. Acredito que a criatividade deveria entrar em cena e o Natal ser desejado de forma especial e diferente assim como o Ano-Novo que se aproxima. Sem “jargões” e tudo o mais que “nos cansa” e que pode ser facilmente previsível.
Assim, desejo sinceramente à todos um “Maravilhoso Natal”, “Especial Natal”, “Um sonho de Natal”, “Natal repleto de alegrias”, “Natal cheio de sorrisos e abraços”, “Natal permeado de solidariedade e amor”, “Natal com mais pessoas e menos coisas” e um Ano-Novo muito diferente, original, autônomo e criativo. Acredito na capacidade dos brasileiros. Que venha de forma excelente e surpreendentemente melhor o 2008.

Artigo publicado no jornal "A Razão" sob o título "Pela originalidade no Natal e no Ano-Novo" em 05/12/2007

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

A beleza na alma, poucos possuem...

Minha filha de 04 anos me surpreendeu com o seguinte discurso.: “Mãe, existe pessoas bonitas por fora mas feias por dentro, pessoas feias por fora e bonitas por dentro mas também pessoas bonitas por dentro e por fora...”, não soube me dizer quem tinha ensinado tais argumentos e não imagino se ela tem consciência do que falou mas isso me fez refletir.
Coincidentemente numa aula de literatura que tinha como base o texto “Banquete” de “Platão” o professor proferiu.; “O bom é sempre belo, todavia o belo nem sempre é bom.”. Juntando os dois discursos me dei conta que conheço almas belas. Como definir?
A beleza interior, num contexto de atualidade raramente é discutida, a beleza exterior que é glorificada num mundo com apelação para o visual, o exterior. As tecnologias podem fazer com que a beleza exterior seja uma realidade para quem se julga “fora dos padrões estabelecidos” todavia a beleza interior é uma conquista que poucos possuem. Não há tecnologia que possa fazer uma pessoa ter alma bela.
No meu ponto de vista, pessoa com beleza na alma é aquela que mesmo depois de sofrer uma grande perda (tipo um filho) não perdeu o amor pela vida e ainda conseguiu reproduzir mais amor em gesto sublime como a adoção de uma criança.
Pessoa de alma bela é aquela que deseja sinceramente toda a sorte e alegria para o seu grande amor mesmo tendo consciência de que não ficará fisicamente com esta pessoa por motivos exteriores ao entendimento humano.
Pessoa com alma bela acolhe os admiradores da sua atividade, ensinando, incentivando e “plantando” na alma do outro “sonhos” de satisfação no futuro, no presente.
Pessoa de bela alma nunca deixa de dar uma resposta ao outro, seja na forma de atenção para uma conversa, de um telefone, de um email, etc. Não importa, é aquela pessoa que não fica “passivo” a manifestação humana. Enfim.
A definição destas almas belas ou belas almas possuem como base pessoas que tenho a alegria de conhecer. Sou apaixonada por elas. Ainda bem que existem seres-humanos assim.
Que bom prestar atenção no que dizem as crianças. Obrigada “Gisella”.

Andressa da Costa Farias.

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Indicações de vídeos

http://www.youtube.com/watch?v=EbAM6dCWE58

http://br.youtube.com/watch?v=7rx2mw9iF5s

http://www.youtube.com/watch?v=w0I3wSYLHQc

http://www.youtube.com/watch?v=w0I3wSYLHQc

Antropologia


Lançamento do Ensaios em Antropologia

Olá!Nessa próxima segunda-feira, dia 19, às 18h, na sala do NECON, 2236, do prédio 74 do Campus da UFSM, haverá o coquetel de lançamento do Ensaios em Antropologia, publicação com abordagem de questões antropológicas, reunindo artigos baseados nas monografias de estudantes das Ciências Sociais. Participam dessa edição, os seguintes autores: professora Drª. Maria Catarina Zanini, Andressa da Costa Farias, Carla Della Vechia, Daniele Marzari Possatti, Marcos Pascotto Palermo e Rojane Nunes.

Atenciosamente, Núcleo de Estudos Contemporâneos

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Amizade Digital ?

Existe amizade digital? Aquela amizade corrente apenas enquanto no “ciberespaço”. Pode existir um tipo de troca de informações, sentimentos e confidências apenas neste “meio”? É possível evitar e não querer o encontro face-a-face? Sim, isso é possível e acontece muito mais do que se pode imaginar, o que me inquieta é saber se realmente este tipo de interação ou troca é de fato amizade. Com advento das novas tecnologias e da facilidade de comunicação mediada pelo computador ficou fácil encontrar num mesmo “local” diversos amigos. Todavia, as trocas e interações entre duas ou mais pessoas são reais, o computador é um mero instrumento. A literatura sobre interação mediada pelas novas tecnologias inicialmente enfocava dialeticamente a questão do virtual X real, algo como um abismo entre estas duas facetas do “mundo ciber”, etc. Porém, há diversos estudos que demonstram que o virtual é uma representação do real e que tais conceitos não são opostos apenas se complementam numa sociedade cada vez mais complexa, fragmentária e objetiva. Em interação com outra pessoa a partir do “ciberespaço” através de programas de mensagens instantâneas como “chats”, “fóruns”, “MSN” o que se tem é uma “conversação” real entre pessoas através de um instrumento: “o computador”. É interessante observar que “dentro de tais programas”, mais do que na presença física os formalismos aparentes são deixados de lado e há a emergência do psicológico com toda a intensidade. As trocas são profundas: confidências, desabafos, o “eu” é amplamente demonstrado. Assim, geralmente as pessoas trocam endereços eletrônicos para mensagens de interação virtual entre aqueles que desejam manter um contato para além do “off-line”, entre aqueles que desejam encontrar também no “on-line”, no “ciberespaço”. Porém, quando os amigos começam a evitar o contato “face-a-face”, o contato real, cabe perguntar se existe ou existiu amizade verdadeira? Que tipo de sentimentos possui uma pessoa que se “utiliza” da outra para confidências e arranjos interativos, mas que dispensa a presença deste “amigo (a)” numa interação real? É a redução do “outro” à máquina, a uma “descarga emocional” ou “sentimental”. É o esquecimento de que a interação não está se dando com o computador por si só e sim através dele, há pessoa do outro lado da tela. Se isso não é considerado, não há uma interação saudável, não existe amizade, vínculo ou qualquer tipo de sentimento. É qualquer coisa, menos isso. Não deixemos nos fazerem de máquinas. Somos humanos, acima de tudo.

Andressa da Costa Farias.
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Publicado no jornal Diário de Santa Maria (www.diariosm.com.br), dia 29/01/2008

http://www.clicrbs.com.br/jornais/dsm/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&edition=9203&template=&start=1§ion=Opini%E3o&source=a1749969.xml&channel=10&id=&titanterior=&content=&menu=&themeid=§ionid=&suppid=&fromdate=&todate=&modovisual=

A Realidade bateu na porta

Estou matriculada na Disciplina de História Riograndense II, no curso de História na UFSM. Quando o professor falava da Guerra dos Farrapos, do ideário farroupilha, da questão da identidade do gaúcho um fato curioso e fora da “rotina” estudantil aconteceu. Recebemos a visita de sete jovens integrantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra. Tivemos o privilégio de ouví-los assim como relatos de identidade de um grupo coeso e com uma ideologia de cooperativismo. Algumas coisas chamaram atenção. Pouco antes da entrada deles, o professor contextualizada as diversas identidades existentes no Rio Grande do Sul: a do gaúcho tradicional (que representa os praticantes da cultura enquanto membros de um contexto de CTG´s, desfiles do 20 de setembro,chimarrão, espora, bombacha, cavalo, etc.) e as demais identidades que podem ser citadas: dos kilombolas, germânicas, italiana (imigrantes), entre outras.Todas podem ser analisadas pelo prisma do multiculturalismo. Esta parte da reflexão me remeteu a pensar sobre a questão da literatura riograndense. O imaginário do gaúcho como guerreiro, corajoso, valente, cavalo e chimarrão está presente em evidência em “Contos Gauchescos” de Simões Lopes Neto. Em contrapartida Cyro Martins em “Trilogia do Gaúcho a pé” já enfoca o gaúcho expulso do campo que vai ocupar e fundar as periferias das cidades. O gaúcho a pé, sem qualificação (pois o que sabia fazer era “lidar” com a terra porém sem mais possuir este bem). Outro autor que enfoca a miserabilidade de que enfrenta o gaúcho a se deparar com a realidade urbana é Dionélio Machado em “Os Ratos”. Eis ai alguns contextos de surgimento de movimentos como o do MST. Trago tais reflexões pois o que o grupo relatou para conosco são assuntos extremamente importantes: a denúncia do latifúndio que produz para exportação, a questão ambiental que se agrava pois avança o plantio de eucaliptos que degrada o solo e consome uma grande quantidade de água. A importância de ser realizada a Reforma Agrária de maneira planejada que possa contribuir para a produção de alimentos para o meio urbano local e para inúmeras famílias destituídas de terra. A apresentação de alguns resultados práticos deste movimento no RS: a venda do “Arroz ecológico” (sem veneno), Leite Terra Viva, possíveis pelo princípio do cooperativismo. Reconheci em cada rosto daqueles jovens a questão do “gaúcho” a pé. Fato confirmado pelo depoimento final de um dos integrantes que se reconheceu numa realidade urbana (certamente sem boas perspectivas) e que o desafio é voltar para campo. Outra fala que mereceu relevância foi de uma educadora “etinerante” ao relatar a questão do preconceito com relação ao Movimento. O pedido expressivo de que antes de julgar qualquer coisa, ato , pessoa ou grupo é preciso conhecer. Não aceitar idéias prontas. A realidade social bateu a porta das salas de aula da universidade. Quais grupos, quais identidades estamos privilegiando? Porque há tanta desigualdade social, concentração de renda? O estudo da História consegue responder. De que forma podemos analisar a importância de movimentos sociais como o "MST"? O passado respinga no presente.

Analfabeto Digital

Gostaria de contextualizar a crônica do publicitário Diomar Konrad do dia 07/09/2007 publicada no jornal local "Diário de Santa Maria":Os analfabetos digitais”, segundo meu ponto de vista e considerando pesquisas na área de antropologia do ciberespaço. Tal texto parece demonstrar um grande paradoxo ou incoerência. Podemos definir como “os analfabetos digitais” pessoas que sabem utilizar equipamentos eletrônicos (MP3 e MP4), acessar sites de notícias (retiradas do mundo “real”), criar comunidades “virtuais”, entre outros serviços disponíveis na Internet? Pesquisas sobre o uso do ciberespaço MÁXIMO (1998), GUIMARÃES JR (2000), RIFIOTES (2002) têm demonstrado que as fronteiras on-line e off-line são tênues ou inexistentes. Esta noção de mundo “virtual” como algo separado, diferente, oposto do “real” é uma falácia. A Internet cresce por motivos econômicos e sociais a cada dia no mundo. Há um salto gigantesco do uso deste importante recurso de comunicação, interação, pesquisa e entretenimento. Desde modo, a separação “virtual” e “real” torna-se um equívoco muito grande. É possível afirmar que não há “divórcio” entre on e off-line, uma vez que o on-line é sempre baseado e contextualizado a partir do off-line. Notícias vinculadas, comunidades criadas, interações entre amigos no ciberespaço (on-line) têm como parâmetro o contexto off-line e vice-versa. Isso é fato. Suponho que o autor da crônica quisesse expor seu ponto de vista a partir de uma exemplificação do “mau uso da Internet”, o tempo excessivo gasto na frente do computador, fazendo o “usuário” esquecer de “trabalhar” ou “estudar”. Todavia tal fato pode ser classificado como vício, patologia ou doença. É o mesmo que ocorre com relação ao uso demasiado do celular, dos jogos eletrônicos, do videogame, etc. São pessoas que precisam de ajuda médica e psicológica. Não são “analfabetos digitais”. Considero que a “real” definição de “analfabeto digital” é de pessoas excluídas de um mundo que faz cada vez mais parte desta sociedade, tão complexa. Não é possível que haja, no Brasil, ainda tantos milhões de “analfabetos digitais”. Lutar pelo acesso e democratização da informática e informação (com advento da Internet) é uma questão social. É uma questão de cidadania.

Andressa da Costa Farias

O 20 de setembro?!

O quer representa HOJE ser Gaúcho ??? No aproximar do 20 de set o Estado celebra o ORGULHO da "alma" guerreira, hospitaleira e festiva do gaúcho. Será? Eu fico mais com as posições da "Trilogia do Gaúcho a pé" de Cyro Martins. Cadê a crítica ao que fazem dia-a-dia com o gaúcho? Vivemos num Estado onde as tradições estão mais na redoma de uma pequena elite. A maioria dos gaúchos estão "a pé", perderam o cavalo, a terra e perdem todo o dia a dignidade com uma Educação pública sem qualidade imposta por uma governadora "paulista" (ironia?). Cadê o espírito crítico e guerreiro do gaúcho??? Ficará para ser mostrado apenas nos desfiles do 20 de setembro e nos fechados salões de CTG´s ?!

Comentário publicado no espaço do leitor com o título "Ser Gaúcho" no dia 17/09/2007 pelo jornal A RAZÃO de Santa Maria.RS
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Um bom presente

Recentemente comprei um livro para oferecer como presente de aniversário a um amigo querido, que é músico. Finalmente um me chamou a atenção pelo título: “Contos para ler ouvindo música” , organizado por Michel Sanches Neto. Minha curiosidade, gosto pela leitura e tempo disponível antes da data de aniversário do meu amigo fez com que eu lesse o livro antes de dar. Uma das poucas possibilidades de uso de um presente sem danificar é um livro. O conto que mais me instigou foi o “O moço do saxofone” de Lygia Fagundes Telles. O fio condutor deste conto é a infidelidade. A estória se passa numa “pensão”, onde há moradores “fixos” e moradores casuais, a maioria artista. O moço do saxofone é casado com uma mulher bonita, todavia, extremamente infiel. A cada traição da esposa, ele toca canções lindíssimas com seu saxofone, porém, muito tristes.Uma vez, um chofer de caminhão, resolveu falar com o “moço do saxofone”, perguntar por que ele não reagia a tudo aquilo? Ele disse: eu reajo, eu toco saxofone. Uma das interpretações possíveis, já na apresentação do livro é de que o som do saxofone era um pedido de socorro do protagonista. Eu pensei muitas outras: talvez seja justamente a traição da mulher a inspiração deste músico para compor suas melodias que apesar de tristes eram belas. Talvez ele e a esposa fossem felizes assim, tivessem feito um pacto, algo como: eu gosto de ter amantes e você aceita isso. Viveremos deste modo, ainda que todos a nossa volta não compreendam. Ou ainda, ambos eram infelizes e cada um compensava de seu modo. Penso, que há mesmo diversas interpretações para este conto. Que os relacionamentos humanos não são fáceis, que as pessoas são frágeis e estão expostas a opiniões públicas a todo instante por que a vida em sociedade pressupõe certas regras e imposições morais. Todavia, o melhor de tudo é a aprendizagem que boas leituras proporcionam. Este livro eu recomendo. Não apenas por este conto. Todos os demais são um convite à reflexão e boas emoções. Ler, sempre vale a pena. Deste modo, um ótimo livro é sempre um bom presente.

Andressa da Costa Farias
* Publicado no jornal A Razão, de Santa Maria com o título de "O Presente" no dia 21/08/2007

Cotas: precisamos delas?

Acompanhando a discussão sobre a implementação de cotas (reserva de vagas para um grupo étnico, no caso os afro descendentes) na UFSM, gostaria de fazer algumas considerações. Uma vez que esta universidade é um importante pólo educacional na região central do Estado. No meu ponto de vista a questão de cotas deveria incluir ou reservar vagas aos menos favorecidos economicamente. Não é a questão racial que declara os mais variados tipos de discriminação e opressão e sim a questão econômica. São os pobres as pessoas mais discriminadas e mais desprovidas de tudo: educação, saúde, trabalho, etc. Os pobres brasileiros são brancos, índios, negros, imigrantes, enfim. Acredito, sinceramente, que quando se elege um determinado grupo para ser contemplado com alguma vantagem estamos necessariamente desconsiderando os outros grupos, estamos praticando discriminação com os demais. É inegável a dívida histórica do Brasil para com os negros, mas será a política de cotas uma solução para começar a “pagar”? E os índios (que igualmente são discriminados e se encontram “as margens” dos seus direitos mínimos de cidadãos), e as mulheres? É inegável que sempre a força de trabalho feminino é geralmente menos valorizada do que a mão-de-obra masculina. E a luta dos imigrantes para se afirmarem enquanto brasileiros? Na verdade somos uma grande mistura étnica, assim se constitui o brasileiro. Segundo Lévi-Strauss (1976), a humanidade caminha para uma mestiçagem cada vez maior. A diversidade cultural e racial é fenômeno natural. A noção totalizante da humanidade é uma constatação muito recente e de expansão limitada. Isso precisa ser constantemente discutido e esclarecido. São os pobres brasileiros que precisam necessariamente ser incluídos no sistema. Será que a educação pública básica fosse de fato de qualidade e abrangente à todos os brasileiros (sejam eles negros, índios, imigrantes, mestiços), necessitaríamos estarmos discutindo política de cotas? Na universidade pública, já tão carente de vagas ?

Andressa da Costa Farias
Cientista social
artigo publicado no jornal A RAZÃO, de Santa Maria-RS. Dia 14/07/2007.

Santa Maria merece ...

Quando vi meu nome no listão de Ciências Sociais da UFSM em 1999, fiquei muito feliz. Todavia, a faixa seria: "Bixo Ciências Sociais" ou "Bixo Sociologia"? Um sentimento compartilhado com meus colegas de curso é de que, na maioria das vezes, as pessoas em geral não sabem o que faz um cientista social. Pior: confundem o curso com outro tipo: assistente social. É diferente. Um cientista social pode trabalhar em setores públicos e privados, realizar diversas tarefas e funções em benefício dos grupos sociais. A dificuldade de explicar o que faz ou para que serve o curso de Ciências Sociais reside exatamente nesse fato: é difícil visualizar de imediato onde o profissional atua. Ao final da faculdade, uma surpresa boa foi ver que o cargo de sociólogo era criado pela primeira vez para ser disputado num concurso público realizado pela prefeitura local. Que avanço. Finalmente, a prefeitura irá deixar um sociólogo atuar na administração da cidade. Achei louvável a atitude da "administração popular", sempre acreditei nos propósitos "da esquerda". Porto Alegre tem sociólogos atuando na administração desde 1977. Recife terá 14 sociólogos apenas em uma secretaria. Esses são só alguns exemplos. Um sociólogo na prefeitura tem diversas atribuições. Por saber realizar pesquisa de campo, pode maximizar os recursos da administração pública. Um exemplo é o caso das famílias que moram às margens do Arroio Cadena mesmo tendo recebido casa na Vila Maringá. Se houvesse a atuação de um sociólogo, esse fato não teria ocorrido. O profissional iria antes fazer uma análise do grupo e seus anseios, a prefeitura poderia ter economizado, e as famílias seriam assentadas em outro local condizente com suas necessidades. As atribuições de um sociólogo vão além e podem ser elencadas numa lista infinita. Uma das principais funções é a realização de estudos que visem ao planejamento urbano, a fim de que os conflitos humanos sejam minimizados, parcerias com universidades para pesquisas etnográficas etc. O fato é que já se passaram "anos" do concurso, o prazo está findando e, pior, ainda não chamaram os sociólogos (um que fosse). Falha? Utopia ideológica? Santa Maria merece não ter o seu sociólogo?

Publicado no jornal Diàrio de Santa Maria, 20/06/2007
http://www.clicrbs.com.br/jornais/dsm/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&edition=7962&template=&start=1&section=Opini%E3o&source=a1536197.xml&channel=10&id=&titanterior=&content=&menu=&themeid=&

Entre clicks e encontros

Muitas vezes ouvir dizer e também já reproduzi o discurso de que a Internet é uma rede mundial de computadores. Grande engano. Agora me corrijo, a Internet é uma rede mundial de pessoas que são conectadas através dos computadores. Esta é a definição correta. Cada vez mais cresce o uso da Internet para fins diversos: pesquisas, e-mails, bate-papo, publicidade, inscrições em concursos, etc. É impossível ficar alheio a todas as possibilidades que este meio de comunicação oferece. Todavia, gostaria de enfatizar o caráter social da internet. Sim, social. Se não fosse um ambiente de interações sociais não existiriam diversos tipos de comunidades criadas por pessoas com interesses comuns através de sites de relacionamento tipo Orkut e outros. Ah, não me venham dizer que Orkut e comunidades não servem para nada. Servem sim e muito. Eu sou um exemplo real disso. Participei de um evento sobre Educação a Distância na UFF-RJ em 2006 que soube através de uma comunidade sobre Educação e Informática no orkut. E de muitos outros eventos que fico sabendo antes através da Internet. Além disso, já fiz amizade através da internet. Já encontrei “face-a-face” pessoas que antes interagiram comigo através desta rede de relacionamentos. A Carla no RJ é um exemplo. Ver fotos de amigos e parentes que se encontram espalhados pelo país e pelo mundo é outro exemplo. A saudade fica menor e quando encontramos estas pessoas estamos inteiramente a par do que estava acontecendo com elas. A interação fica melhor e os laços sociais e afetivos fortalecidos. Segundo Lévy (1996), no ciberespaço, cada um é potencialmente emissor e receptor num espaço qualitativamente diferenciado, não fixo, disposto pelos participantes, explorável. Aqui, não é principalmente por seu nome, sua posição geográfica ou social que as pessoas se encontram, mas segundo centros de interesses, numa paisagem comum do sentido ou do saber. O principal atrativo da Internet esta justamente ai: encontrar e interagir com indivíduos que possuem interesses comuns aos teus. Esta interação não é fria. Não é com uma máquina, é com pessoas. Muitas vezes “gastamos” horas no MSN (programa de bate-papo em tempo real), por que sabemos que do outro lado da tela existe pessoa (ou pessoas) tão reais quanto nós. Estas interações favorecem o encontro. Dificilmente se interage no MSN por muito tempo com quem não se conhece pessoalmente. Geralmente é com parentes e amigos. Pessoas que você quer encontrar (e encontra logo). Não é uma relação fria. Muito pelo contrário, os inúmeros ícones (carinhas e bonequinhos) e as possibilidades de som e imagem (webcam) tornam ainda mais reais e humanas as interações. Enfim, por estas e outras é possível que se defina a Internet cada vez mais como uma rede com um caráter socializador, que permite os encontros que não são meramente virtuais e sim uma extensão da vida real. Afinal, o computador é só um meio, um instrumento. Este mito de rede de computadores precisa ser esquecido. È uma rede de pessoas, eminentemente social. Serve cada vez mais para o propósito de estudo antropológico.

Andressa da Costa Farias
Texto publicado no jornal local Diàrio de Santa Maria, dia 28/05/2007
http://www.clicrbs.com.br/jornais/dsm/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&edition=7833&template=&start=1&section=Opini%E3o&source=a1514859.xml&channel=10&id=&titanterior=&content=&menu=&themeid=&sectionid

CRIANÇA POBRE OU POBRE CRIANÇA ?

O direito de simplesmente ser criança é negado neste país quando se é uma criança pobre. Seja índio, seja branco, seja negro quando se é pobre a criança é coagida a pedir esmolas, a trabalhar e talvez até a roubar. O medo das crianças pobres impera nesta sociedade hipócrita. Talvez este receio fez com que as pessoas não se importassem com o indiozinho que esmolava no calçadão e se sensibilizassem com o cachorro poodle perdido no centro de Santa Maria, cena descrita pela professora Adriana do Amaral e retomada pelo jornalista Marcelo Canelas. As crianças pobres pedintes, trabalhadoras estão em toda parte. Fui à escola da minha filha e ao sair de lá duas menininhas estavam pedindo esmolas no portão. Aparentavam não mais que quatro anos e já tinham na ponta da língua uma frase que repetiam insistentemente: “Dá uma moedinha ai tia!”. No caminho para casa foi só olhar para a rua para ver dois meninos de no máximo oito anos puxando carrinho de coleta de lixo para reciclagem. Trabalho duro, sol forte e já na dura luta pela sobrevivência. Quando estava no Rio de Janeiro eu lembro que a toda a hora ao sair do hotel as pessoas diziam: cuida a tua bolsa, tem muito “pivete”. O que fazer? Enquanto cientista social eu afirmo com certeza que a solução parece obvia, todavia jamais foi ou é levada a sério no Brasil: educação de qualidade, ampliação dos horários das crianças na escola, salários dignos para os educadores, merenda farta. Caso isso aconteça um dia de fato o país certamente gastaria menos com segurança pública e cresceria economicamente enquanto nação. Cada vez mais a sociedade precisa de mão-de-obra qualificada e competente. Como isso pode acontecer num país cuja média de tempo na escola muitas vezes não passa de quatro horas diárias? A escola deveria acolher as crianças, sobretudo as mais carentes em tempo integral, com cursos diversos no horário oposto ao turno de aula formal, com merenda farta, etc. Deste modo as crianças não estariam nas ruas pedindo esmolas, nem no sol forte trabalhando como se fossem adultos, não estariam cometendo pequenos delitos. O Brasil que não reconhece o potencial de suas crianças, que não investe na educação de qualidade será sempre vítima de suas pobres crianças, ou seja, de suas crianças pobres. Nas leis formais todos têm direitos iguais, porém nem todos têm oportunidades. O discurso é social, mas a cultura é individualista. Até quando a hipocrisia?

Andressa da Costa Farias
Publicado no jornal Diàrio de Santa Maria, 17/03/2007.

Listão da UFSM

A divulgação do listão da Universidade Federal de Santa Maria é sempre um grande acontecimento na cidade, esperado com ansiedade por muitos. Santa Maria completa mais um ciclo de vestibular da Universidade que todos sonham entrar. Impossível ficar alheio a este fato visto que a cidade “transpira” a divulgação do vestibular, seus gabaritos, ponte de corte, classificados, etc.
Fiquei imaginando a decepção daqueles que passaram “no corte” e agora são suplentes. A tristeza dos muitos que nem no “corte” conseguiram passar. O vestibular é um funil sem precedentes. Mesmo com a ampliação das vagas pelo surgimento da Unipampa ainda é grande a demanda e poucas vagas. Foram mais de 15 mil candidatos reprovados.
Recomendo aqueles que ainda estão “a margem” da ingresso na Universidade Federal de Santa Maria que se aproximem da universidade. Ela é pública. Muitas vezes as nossas escolhas estão pautadas pelos anseios dos outros. É assim que muitos que entram na universidade se decepcionam depois de um ou dois semestres de curso.
Até para ter mais vontade e dedicação de estudo no próximo concurso vestibular (e não perder tempo na vida) é importante conversar com acadêmicos do curso a qual almeja, com professores e profissionais. É preciso perder “o receio” de ir ao campus. Não tem como se limitar só a Feira das Profissões. Ela não informa tudo.
Além disso, é preciso ter consciência de que a ensino público no país passa por uma crise enorme. Somos vítimas da falta de organização, ética e responsabilidade política para com a educação. Os acadêmicos da UFSM estão em aulas em pleno janeiro e fevereiro de 2007 do verão sufocante e quente de Santa Maria, em decorrência da greve de muitos meses em 2006 que estava pautada pela defesa do ensino público e por melhores salários dos profissionais da educação e técnicos administrativos.
O vestibular é mais uma etapa das muitas da vida. Mas o processo é mais amplo. É preciso ter conhecimento disso e não ficar passivo a questões que envolvem muito mais que uma prova, o ponto de corte, é preciso exigir educação de qualidade, ter consciência das questões que envolvem os bens públicos e cobrar mais ética na política.
Aos mais de 15 mil candidatos que não conseguiram conquistar a vaga na Universidade Federal de Santa Maria em 2007 fica o desejo de boa-sorte no próximo concurso e as dicas: repensar as escolhas e se aproximar da UFSM. Ao listão 2008...

Andressa da Costa Farias
Texto publicado no jornal A Razão (de Santa Maria-RS) no dia 30 de janeiro de 2007.
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Novos Médicos

Final de ano em Santa Maria pipoca os preparativos para o vestibular, mas também os bailes de formatura. Participei recentemente da festa de Formatura de Medicina. Emocionante. Alias toda formatura é linda. Minha prima Karine colou grau. Primeira médica na família. Todo mundo muito orgulhoso e feliz. Uma profissão muito sedutora e importantíssima. Imaginei que em cada rosto ali presente que a partir daquele momento se tornava médico (a) estava estampada a satisfação de ter conseguido conquistar uma vaga numa universidade pública e num curso que é tão concorrido como o de Medicina. Percebi o orgulho de todas as famílias presentes (que literalmente lotaram o Ginásio do Clube Recreativo Dores), todos que ali estavam como convidados de uma maneira ou outra foram importantes no processo de formação do médico (a) que recebia seu título, enfim.A vida começa com os cuidados deste profissional. É geralmente nos hospitais que os primeiros sons das pessoas que recém chegam no mundo são ouvidos. É através do carinho, da dedicação e principalmente da competência do médico (a) que a vida começa a se desenvolver. Pediatras, clínicos gerais, cardiologistas, otorrinolaringologista, oftalmologista, ginecologistas. Etc. Precisamos dos médicos (a), confiamos a nossa vida a estes profissionais. Por isso, certamente creio que a minha prima e todos os novos médicos que colaram grau recentemente têm exata consciência da importância e da responsabilidade desta profissão e que saberão exerce-la com dedicação, humanismo e muita ética. Que jamais façam da Medicina algo puramente profissional e sim façam do exercício desta profissão uma vocação de amor, respeito ao próximo e dedicação pela vida. Que estes novos profissionais da saúde se tornem inesquecíveis para cada novo paciente. Sejam marcantes pelo empenho, eficiência. Que a saúde venha a surgir aliviando a doença e que a vida possa geralmente vencer a morte. Que jamais deixem de atender um chamado, um pedido de socorro eventual, afinal é uma profissão em que a referência do “ser médico (a)” é algo que não estabelece horários, rotinas, dias, enfim.Parabéns aos novos médicos (a), formandos de Medicina/UFSM 2006. Parabéns Karine. MUITO SUCESSO!

Andressa da Costa Farias
Publicado no jornal A Razão, dia 05/12/2006 e no jornal Diário de Santa Maria, dia 14/12/2006 em Santa Maria-RS.

Tempo de Sonhar

Quando os últimos dias do ano se aproximam geralmente as pessoas param uns instantes para pensar em como foi o ano que vai embora. São os saldos de 2006: o que ficou de bom, o que ficará para ser realizado no próximo ano, o que ficou de aprendizado, etc.
2006 iniciou com muitas expectativas: Copa do Mundo e Eleições. Passou rápido. O Brasil não conseguiu levar o Hexa no futebol, porém, antes do ano acabar o Internacional conseguiu ganhar o Mundial de Clubes no Japão. Este feito fez a alegria de muitos brasileiros, sobretudo os gaúchos, especialmente os colorados. Futebol: orgulho nacional.
As eleições aconteceram, com algumas mudanças, pequenas alterações, porém o formato das propagandas eleitorais no rádio e na televisão continuou o mesmo (e as promessas também). A política, ao contrário do futebol, faz o povo brasileiro ficar cada vez mais decepcionado.
Este ano no cenário político não faltaram escândalos , desvio de dinheiro público, etc. Como se não bastasse, pouco antes do ano acabar, deputados e senadores quase aprovaram um aumento de salário de 90%. Ainda bem que a opinião publica, neste caso, se fez “ouvida”. Na política, em 2006, o país provou diversas vezes que vai mal, muito mal. O Brasil, infelizmente, tem representantes públicos mais preocupados com suas causas pessoais do que com a causa da nação brasileira.
Os “representantes do povo” ganham muito mais do que mereceriam e parecem nem se importar de viver num país tão castigado historicamente com as disparidades sociais. Enquanto muitos brasileiros não têm dinheiro nem para a comida, os políticos têm salários de marajás. Política: uma grande vergonha nacional. 2006 provou isso.
O Natal foi novamente uma “ode ao consumo”, lojas e shoppings abriram dia 24 para garantir o “presente de todos”. O domingo (há muito tempo) não é mais para família. A figura do Papai-Noel é absolutamente mais marcante e reproduzida neste cenário de compras, pacotes e saldos. Não há muito espaço para o verdadeiro motivo da festa de 25 de dezembro: nascimento de Jesus Cristo. Crianças enumeram os presentes que querem ganhar, etc. As pessoas carentes dependem da solidariedade alheia nesta festa senão não têm Natal.
O ano que finaliza se despede com alegria no futebol, frustração no cenário político e cultura consumista enfatizada. Porém, que a esperança nasça com toda a força e vigor em 2007 fazendo com que o futebol brasileiro continue imbatível, que os políticos eleitos assumam seus cargos com muita ética e responsabilidade social, que a solidariedade continue existindo entre as pessoas, mas que o Natal volte a ter um espaço maior para a fé e reflexão. Que 2007 seja incrível, inesquecível. É tempo de sonhar.

Andressa da Costa Farias
* texto publicado no jornal Diário Catarinense (SC) dia 30/12/006

ÓRFÃOS...

Manhã de sábado ensolarada e com vento norte característico de Santa Maria um fato me deixou muito triste e de certa forma revoltada. Este fato me fez escrever e dividir esta angustia com você. Acredito que esta cena não é isolada num país como o Brasil. Quantos meninos já bateram na porta da tua casa pedindo comida? Pedindo algo? Dois meninos franzinos, certamente um de cinco anos e outro de dez anos apertaram o interfone e pediram “Tia, tem algo para dar? Estamos com fome.” Sou contra esmolas, mas como negar algo para duas crianças com fome? Assim que dei os pacotes de bolachas eles abriram e saíram rápido “devorando” tudo. Cena triste. Minha filha perguntou: Eles são pobres? Eu disse para ela: Eles são órfãos. Como explicar este fato para uma menina de três anos? Brasileira como estes meninos. Criança como estes meninos. Como explicar o que é ser órfão? Ser pobre é fácil identificar, ela já entende. Milhões de pessoas são pobres neste país. A pobreza no Brasil é cruel. Ser pobre neste país é uma desgraça. Ser pobre pressupõe enfrentar muitas filas e hostilidades. Filas para ser atendido num posto de saúde lotado. Fila para matricular o filho da escola pública mais próxima. Filas para pegar ônibus. Viver com poucas opções de roupas, poucas opções de calçados, de comidas. Contar cada moedinha para conseguir comprar uma carne “de segunda” para fazer no final de semana. É triste, é cruel. Minha filha já sabe, já entende a pobreza. Vive num país de muitos pobres. Mas estes meninos que bateram na nossa porta são órfãos. Ser órfão, segundo o Dicionário Aurélio tem muitas definições pode ser “aquele que perdeu os pais ou um deles, que perdeu um protetor, abandonado, desamparado, privado, desprovido, falto...” Não sei se estes meninos perderam os pais. Mas tenho certeza que são desamparados, privados de uma família estruturada, são privados de seus direitos básicos como crianças, como cidadãos. São desprovidos de um Estado que realmente os proteja. São órfãos. O artigo 71 do Estatuto da Criança e do Adolescente diz “A criança e o adolescente têm direito à informação, cultura, lazer, esportes, diversões, espetáculos e produtos e serviços que respeitem sua condição peculiar de pessoa em desenvolvimento.” Parece até utópico se formos pensar nos meninos que bateram na porta pedindo comida. Como garantir estes direitos para as crianças que não tem o direito nem de ter comida em casa? Crianças que precisam diariamente sair as “ruas” para garantir seu “pão”. Eles representam os milhões de meninos e meninas do Brasil que estão nos sinais de trânsito vendendo balas, fazendo malabares, os temidos “pivetes” que tanto amedrontam brasileiros. Se eles conseguirem vencer neste país serão verdadeiros “Heróis”. Não posso mais confiar no Estado Brasileiro, nas leis, enfim. Confio nos meninos e meninas do Brasil. A esperança, a utopia não pode morrer.

Andressa da Costa Farias
* texto publicado nos jornais Diário de Santa Maria e A Razão no mês de agosto de 2006.

SAUDADE

Quem um dia ou em algum momento da vida não sentiu saudade? Aquele aperto no coração, aquela vontade de chorar, o pensamento longe em momentos ou instantes que fizeram diferença na nossa vida e deixarão apenas:SAUDADE! Muitas pessoas lastimam sentir saudade. Eu não. Sinceramente acho que a gente só sente saudade daquilo que foi bom ou maravilhoso em nossas vidas. Então, acredito que sentir saudade é ter sentimentos bons, é reviver momentos que foram agradáveis. Mesmo que só através da lembrança. Muitas vezes sinto saudade. Saudade da minha adolescência, das vezes que andava de bicicleta na avenida, saudade de brincar com meus irmãos e primas quando éramos crianças. Tenho saudade dos congressos que já participei através da faculdade, das praias, dos lugares que já conheci e gostei, de muitos amigos e amigas que faz tempo que não vejo pessoalmente. Tenho saudade de muitas pessoas especiais que passaram em minha vida e que por estarem longe fisicamente eu não posso ver freqüentemente. Tenho saudade de amigos e parentes que por alguma fatalidade do destino já não estão mais neste mundo. Suspiro. A saudade tem o poder de conseguir fazer com que eu “reviva momentos” através da minha memória. Tem gente que acha isso nostálgico. Discordo. Lembrar de fases e instastes mágicos faz bem. É bom. É lembrar de situações de amizade, situações de amor e companheirismo, descobertas, enfim... Hoje, feriado de 07 de setembro, me dediquei à amizade e a curtir a minha filha. Tinha um sol lindíssimo. Recebemos a visita da dinda da Gi, Daniele. Eu, a Gisella e Daniele brincamos muito, fomos na pracinha, rimos muito, conversamos, enfim. Depois tive a honra de receber outra amiga-Lucila, que está no país fazendo intercambio. Lucila é argentina. A Gisella percebeu que ela falava “diferente”. Ao tomarmos um café a Gi disse para Lucila “Ei, fala direito”. Foi muito engraçado. Eu, Lucila e até a Gisella rimos muito. Como fazer uma criança de três anos entender que Lucila é estrangeira? Foi divertidíssimo. O tempo passará, a Gisella vai crescendo, um dia contarei o fato a ela.Vai novamente ser engraçado esta lembrança. A Lucila está quase voltando para Argentina. Porém estes momentos felizes, estes instantes de alegria ficaram guardados para sempre na nossa memória. Deixarão muita saudade. Ainda bem.

Andressa da Costa Farias
Texto publicado no jornal A RAZÂO, dia 9 e 10 de setembro de 2006.

Professor...

O professor (a) é a primeira pessoa depois da família que tem o poder de ensinar. Todos passam (ou deveriam passar) por este profissional. É aquela pessoa que ensinará nossas primeiras letras, primeiras palavras, primeiras frases, muitos valores e atitudes. Há diversos tipos de professores. Eles estão em muitos lugares: nas creches, nas escolas, nas universidades, nas escolas especializadas em artes como música, teatro, dança. Nas academias ensinando a nadar, a saltar, a dançar. Existem os professores que ensinam algo em específico como informática, mecânica, biscuit, etc. Geralmente é o professor (a) que indicará nossos possíveis talentos e vocações. Enfim, o professor (a) é uma figura muito importante na vida de cada um. Na era do conhecimento, o valor do profissional do saber deveria se elevar cada vez mais. Ser professor (a) é um dom, uma dádiva. É ter o poder de influenciar, é ter o poder de fazer com que os sonhos e anseios se tornem aos poucos realidade. Infelizmente, é claro, existem os profissionais sem vocação. Aqueles que ensinam sem contextualizar, que não se preocupam em fazer um trabalho sério, que sempre colocam a culpa na falta de uma boa remuneração para a não dedicação. Há ainda aqueles que estão preocupados somente com os títulos acadêmicos, aqueles que humilham algum aluno frente a classe por motivo fútil. É lamentável. Estes são os falsos professores. Paulo Freire, em seu livro “Pedagogia da Autonomia” tentou “explicar” a arte de ser professor. Tentou dizer que ensinar exige muito. Exige rigorosidade metódica, exige pesquisa, respeito aos saberes dos educandos, criatividade, estética e ética, aceitação do novo, rejeição a qualquer tipo de discriminação, exige alegria e esperança. Exige a convicção que a mudança é possível. Ser professor (a) não é tarefa fácil. Não é para qualquer um. Os verdadeiros professores são mestres. São aqueles que não são simplesmente professores, são amigos, são incentivadores. Ensinam contextualizando. Os que realmente se preocupam se os alunos estão aprendendo. Os que inspiram para a vida. Os que não deixam e nem se deixam desistir de sonhos e ideais. A estes profissionais do saber vai a minha homenagem e o meu agradecimento. Afinal, foi por causa desses professores especiais que também escolhi esta louvável profissão.

Papéis Sociais

Mesmo que nem percebemos estamos imersos numa grande cena social. Somos atores da vida real. A sociedade é um grande palco, constitui um imenso teatro que serve de inspiração para as encenações profissionais. Ao interagirmos com outras pessoas estamos encarnando “papéis sociais”. Aqueles mais aptos a representar serão melhor avaliados. Os papéis representados são os mais diversos: somos pais, somos amigos, somos consumidores, somos expectadores, somos profissionais, somos leitores, somos irmãos, somos alunos, enfim. Dependendo do horário e com quem estamos interagindo estamos representando algum papel. Esta é a concepção interacionista das Ciências Sociais, onde sociólogo como Erving Goffman é um dos representantes por centrar suas pesquisas no estudo das interações dos grupos sociais. Acredito que a concepção interacionista vem a contribuir com o entendimento cada vez mais complexo das sociedades modernas. Ao interagirmos face-a-face com as outras pessoas deixamos evocar nossas concepções morais, éticas, religiosas, nossas tolerâncias e intolerâncias, nossas crenças, etc. Somos frutos da sociedade a que estamos inseridos. Quantas vezes mesmo que sem querer julgamos as pessoas e os seus atos? A sociedade ocidental tem um modelo estabelecido de pessoa ideal: a que consegue ter sucesso profissional, boa aparência física, pratica esporte, participa dos mais variados eventos sociais, viaja freqüentemente, etc. Quanto mais se afastamos deste “modelo” mas próximo estamos de sermos em algum momento estigmatizados. Grupos como homossexuais, prostitutas, deficientes físicos, idosos, entre outros são alvos mais fáceis de preconceito quando em interação com os demais sujeitos ditos “normais”. Todavia, os estudos interacionistas como o que E.Goffmann fez apontam que o dito “normal” e o “estigmatizado” são partes de um mesmo todo. Provavelmente em alguma fase da vida toda a pessoa prova o desprezo ou preconceito das demais seja por algum atributo físico, por alguma deficiência ou dependência ou ainda por algum tipo de “desvio” de ordem sexual ou moral. Neste sentido, a grande contribuição das Ciências Sociais com estudos dos grupos ditos “minoritários” na sociedade tem sido evocar o respeito e a maior tolerância das pessoas com as demais. Não é um processo fácil. A diversidade nem sempre é compreendida. Porém, um dos papéis dos cientistas sociais no grande palco da sociedade é este: conscientizar! Andressa da Costa Farias/ Bacharela em Ciências Sociais
** Publicado na Revista Mix do Diário de Santa Maria nos dias 14 e 15 de outubro de 2006. Título: Tolerância nos Papéis Sociais. Texto tema da minha monografia de graduação em Ciências Sociais, recebi orientação da professora Drª Maria Catarina C.Zanini.

Votei na Utopia

Pode parecer paradoxal, mas realmente não sinto nenhuma vontade de comparecer na urna no dia de decisão eleitoral. Não me sinto representada (infelizmente) por nenhum dos candidatos. Apesar de o Brasil ter vivenciado anos de ditadura e ter lutado para conquistar a tão sonhada democracia, a representatividade política neste país é uma enorme vergonha. Partidos que poderiam representar a libertação de tantos vícios políticos repetiram os mesmos erros: corrupção, desvio de verbas públicas, troca de favores, etc. Restaram então poucas opções para votar. Nenhuma (infelizmente) me satisfaz. Eu sei de toda importância da representação política. Não poderia me abster deste direito, mas realmente as perspectivas de ambos os lados não são favoráveis. O sentimento é de total perda, descrença e decepção no modo de se fazer política neste país. O que percebo no Brasil, no meu Estado e na minha cidade são graves problemas que direta ou indiretamente atingem a todos: desemprego, pobreza, falta da seguridade social a quem mais necessita, caos na saúde pública, baixos salários de professores e de tantos outros profissionais dignos, greves periódicas de setores públicos como bancos e universidades, enfim. Isto tudo acaba por gerar violência, exclusão, desespero, desamparo. Políticas sérias e políticos éticos certamente seriam uma via de contornar muitos problemas sociais. As políticas públicas são de suma importância para o acesso da população à saúde, educação, transporte, etc. Porém na hora do discurso, da propaganda eleitoral as ideologias propagadas são lindas, as perspectivas são ótimas, parece que tudo será resolvido como mágica. Por isso a minha decepção. Sei que nada disso acontece depois, sei que as decisões e acordos políticos passam por “n” fatores. Enfim, me sinto enganada como cidadã brasileira. Não consigo ter perspectivas com as opções apresentadas por políticos que se dizem éticos e depois de eleitos muitas vezes viram as costas para o povo. Até quando esta passividade brasileira? Até quando elegeremos ou reelegeremos políticos assim? Só me resta votar na utopia. A utopia de acreditar na ética, na verdade e de que um dia se fará realmente política representativa no Brasil. Aquela que olhará para todas as diversidades e se sensibilizará de fato com os graves problemas que assola este povo brasileiro. Este povo de cara alegre e coração triste, porém um povo hospitaleiro, guerreiro. Este povo que merece respeito, que merece dignidade. Voto na esperança. Voto na utopia. Dias melhores, espero.
* Publicado como artigo no Diário de Santa Maria no dia 8 de novembro de 2006. www.diariosm.com.br

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